terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Words End.

"Not words, Worlds".

Oi.
Gosto muito desse gracejo do Gaiman em Fim dos Mundos. Na edição brasileira, foi alterado para "Fim dos mudos. Não mudos, mundos", e eu prefiro o original.
Há algumas semanas, me deparei com uma imagem, e eu discordei tanto dela...

Não vou fazer uma outra postagem sobre, literalmente, o fim dos mundos. Lembrei agora de um gracejo em Os Filhos de Anansi. Sobre onde era o fim do mundo e que era também o início, depende apenas da forma omo você olha.

Discordei por causa de um dos contos de Fim Dos Mundos, o "Uma História de Duas Cidades".

"Robert sacudiu a cabeça. 'Passei a vida inteira caminhando pela cidade. Esta não é a cidade, ainda que em certos momentos eu reconheça fragmentos dela, como alguém identificando um verso de um poema familiar num livro que nunca leu.'

O velho pôs a mão sobre o ombro de Robert.
'Esta é a cidade', repetiu.
'Então... Em que parte dela estamos?'

"Acho...' O velho fez uma pausa. O vento soprava frio no alto da ponte. 'Estou aqui há muitos, muitos anos. Quantos, não sei. E nesse tempo todo tive tempo para pensar.
Talvez uma cidade seja um ser vivo. Afinal, todas tem sua própria personalidade.
Los Angeles não é Viena. Londres não é Moscou. Chicago não é Paris. Toda cidade é uma coleção de vidas e construções, e a personalidade de cada uma é única.'

'E daí?'
'Daí que, se uma cidade tem personalidade, talvez também possua alma. Talvez sonhe.
Acho que estamos nisso. Nos sonhos da cidade. É por isso que alguns lugares são quase reconhecíveis. É por isso que quase sabemos onde estamos.'

'Você acha que estamos dormindo?'
'Não. Estamos acordados, imagino. Mas acredito que a cidade esteja dormindo e estejamos zanzando por seus sonhos.'

[...]

'Talvez algum dia eu retorne ao mundo desperto. Estou procurando por alguma rua que conheço na cidade verdadeira - e quando encontrar, andarei por ela até voltar ao mundo real.
É a minha esperança, e rezo por isso. Afinal, é preferível à alternativa.'
'Que seria...'

'A cidade acordar', disse o velho. 'Que ela acorde e...'

[...]

Conheci Robert num vilarejo do litoral escocês, poucos anos depois dos eventos que acabo de relatar.
[...]
'Você teme algum dia voltar aos sonhos da cidade?'
'O que eu temo é o dia em que as cidades acordarão. O dia em que as cidades se levantarão.'
Prefiro acreditar que foi o frio que me fez estremecer, que fiquei sem fôlego apenas porque uma réstia de névoa invadiu minha garganta.
Robert se afastou pela charneca e nunca mais o vi.

Desde então, cruzo as cidades com menos tranquilidade."

Algumas histórias do Gaiman tem a capacidade de me deixar de olhos arregalados todas as vezes que eu as leio. Essa é uma delas. Ramadã é outra. E Mortalha.

Bons sonhos.
Ramadã é tão lindo. "Assim, o seu palácio era o palácio das maravilhas"

5 comentários:

  1. Bem meu amigo, como já é de nosso conhecimento, eu quase nunca lhe adivinho a linha de pensamentos quando faz uma postagem, de modo que numa situação, você pode muito bem estar falando de física quântica e eu começar a comentar como é a textura do chá de ervas servido num bar meio underground perto da minha faculdade...
    Isso não chega a ser um embaraço para mim, porque considero natural que um Sonho desperte outro, que embora tenha o enredo alterado para uma forma oposta, trata-se tão somente do primeiro Sonho que o evocou.
    Então, vou devanear sobre a minha cidade alertando porém, que quase sempre soamos bairristas chatos quando começamos a falar sobre nosso torrão natal.
    Uma vez eu disse a uma amiga que BH é um misto de Nova York e Liliput, porque é uma cidade grande e ao mesmo tempo, quem mora aqui conhece todas as esquinas e sempre cruza com conhecidos por elas (mesmo que seja apenas no olhar). O problema são os desencontros e/ou os ignorados encontros que ocorrem nessas mesmas esquinas.

    Não sei dizer se BH tem uma alma (ou se qualquer cidade a tem), mas se tivesse, eu a reconheceria em qualquer situação, porque eu respiro essa alma todos os dias nessas esquinas...

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  2. Dialogando primeiro com o comentario do Sahge, eu diria que sempre me atrevo a comentar o que vcs escrevem porque sou uma sem noção, eu não sei ao certo, mas desconfio que não compreendo uma linha do que vcs escrevem, mas gosto tanto dos dois que me atrevo a falar com vcs, só por puro atrevimento mesmo rsrs...

    E sim, também creio que a cidade tem vida própria, Gaiman também me causa arrepios, mas acho que prefiro a visão de Pratchett sobre a vida, as cidades e tudo o mais... Sempre penso que Recife, como toda boa grande cidade, é como Ankh-Morpork.

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  3. Pandora, minha cara, para que você se tranquilize ( e eu discordo. Você tem bastante noção, inclusive de que eu não faço o menor sentido e eu ficaria surpreso se fizesse), posso dizer (apenas e exclusivamente por mim) que na maioria das vezes eu apenas sei do que estou falando quando o mesmo é lido (ou ouvido) por outra pessoa.
    Coisa de Oniriconauta psicografante de sonhos.

    Morpheus ordena, eu dou forma e só muito depois é que venho compreender de fato a que dei luz.
    Cheros!

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  4. Obrigada Sahge, vc é sempre legal comigo!!!

    Cheros para vc também e para o Rafael também!!!

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  5. Agora que descubri o que significa Oniriconauta, descubri que também sou um Oniriconauta psicografante de sonhos, tenho essa mesma falta de lucidez ou transcendência ou paranormalidade ou o que vocês quiserem chamar...

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