domingo, 17 de abril de 2011

Wo sind die Kinder?

Boa tarde, pessoas!

"Onde estão as crianças?
Ninguém sabe o que aqui aconteceu.
Ninguém viu nada
Onde estão as crianças?
Ninguém viu nada"
Rammstein - Donaukinder

Lembrei hoje do conto do Flautista de Hamelin. E a fábula do Menino e o Lobo. Não faço a menor ideia do porque que eu fiz uma relação entre os dois, mas eu fiz.

Imagino que todos conheçam a história do Menino e o Lobo (ou O Menino que Mentia. É aquele que o menino grita que o Lobo está indo devorá-lo. A mãe vai socorrê-lo e descobre que é sempre mentira. Ao final, quando o lobo realmente chega para devorá-lo, ele grita e a mãe não vem).
Enfim, postarei aqui apenas o conto do Flautista de Hamelin. É baseado num fato que aconteceu na Alemanha há quase oito séculos.

O Flautista de Hamelin - Irmãos Grimm

Há muito, muitíssimo tempo, na próspera cidade de Hamelin, aconteceu algo muito estranho: uma manhã, quando seus gordos e satisfeitos habitantes saíram de suas casas, encontraram as ruas invadidas por milhares de ratos que iam devorando, insaciáveis, os grãos dos celeiros e a comida de suas bem providas despensas.    Ninguém conseguia imaginar a causa de tal invasão e, o que era pior, ninguém sabia o que fazer para acabar com tão inquietante praga.  Por mais que tentassem exterminá-los, ou ao menos afugentá-los, parecia ao contrário que mais e mais ratos apareciam na cidade. Tal era a quantidade de ratos que, dia após dia, começaram a esvaziar as ruas e as casas, e até mesmo os gatos fugiram assustados.  Ante a gravidade da situação, os homens importantes da cidade, vendo perigar suas riquezas pela voracidade dos ratos, convocaram o conselho e disseram: Daremos cem moedas de ouro a quem nos livrar dos ratos. Pouco depois se apresentou a eles um flautista taciturno, alto e desengonçado, a quem ninguém havia visto antes, e lhes disse: "A recompensa será minha. Esta noite não haverá um só rato em Hamelin".  Dito isso, começou a andar pelas ruas e, enquanto passeava, tocava com sua flauta uma melodia maravilhosa, que encantava aos ratos, que iam saindo de seus esconderijos e seguiam hipnotizados os passos do flautista que tocava incessantemente.  E assim ia caminhando e tocando, levou-os a um lugar muito distante, tanto que nem sequer se poderia ver as muralhas da cidade.  Por aquele lugar passava um caudaloso rio onde, ao tentar cruzar para seguir o flautista, todos os ratos morreram afogados.  Os hamelineses, ao se verem livres das vorazes tropas de ratos, respiraram aliviados. E, tranqüilos e satisfeitos, voltaram aos seus prósperos negócios e tão contente estavam que organizaram uma grande festa para celebrar o final feliz, comendo excelentes manjares e dançando até altas horas da noite.  Na manhã seguinte, o flautista se apresentou ante o Conselho e reclamou aos importantes da cidade as cem moedas de ouro prometidas como recompensa. Porém esses, liberados de seu problema e cegos por sua avareza, reclamaram: “Saia de nossa cidade! Ou acaso acreditas que te pagaremos tanto ouro por tão pouca coisa como tocar a flauta?".  E, dito isso, os honrados homens do Conselho de Hamelin deram-lhe as costas dando grandes gargalhadas.  Furioso pela avareza e ingratidão dos  hamelineses, o flautista, da mesma forma que fizera no dia anterior, tocou uma doce melodia uma e outra vez, insistentemente.  Porem esta vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, iam atrás dos passos do estranho músico. De mãos dadas e sorridentes, formavam uma grande fileira, surda aos pedidos e gritos de seus pais que, em vão, entre soluços de desespero, tentavam impedir que seguissem o flautista.  Nada conseguiram e o flautista os levou longe, muito longe, tão longe que ninguém poderia supor onde, e as crianças, como os ratos, nunca mais voltaram.  E na cidade só ficaram a seus opulentos habitantes e seus bem repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por suas sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza.  E foi isso que se sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança. 
 

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Me pergunto o que foi feito às nossas crianças. Às crianças que nós fomos. E aqui, volto a citar Till, Flake o os outros, mas me lembro de um excerto de Alice no País dos Espelhos (o mesmo que Neil utilizou para prefaciar [não sei se essa palavra existe...] Lendo as Entranhas):
"Onde estão as crianças?
Ninguém sabe o que aqui aconteceu.
Ninguém viu nada
Onde estão as crianças?
Ninguém viu nada

Mães ficam quase na correnteza
e choram um dilúvio.
Nos campos, através dos diques
aumenta a dor em todas as lagoas.
"
"-Quero dizer - disse ela - que ninguém pode fazer nada para não envelhecer.
-Uma pessoa não pode - retrucou Humpty Dumpty -, mas duas podem. Com a adequada assistência, você pode para aos sete anos."
(Lewis Carrol, Alice no País dos Espelhos )

Me pergunto ainda se um dia recuperaremos a doçura da infância.

Mas acho que o ponto que eu queria chegar não era sobre o Flautista, mas sim sobre o Menino e o Lobo. Na fábula, o menino grita e grita. No final, sua mãe não mais vem para socorrê-lo. Mas isso não é verdade. Não sei exatamente qual é o meu ponto com essa postagem, qual a razão para tê-la feito e tudo o mais, mas... Aqui ela está. Talvez seja que a fábula do Menino esteja errada e que a mãe dele sempre venha, por mais que ele minta. Talvez seja que o "Field of Innocence", nas palavras da belíssima Amy Lee já se foi para quase todos nós. Talvez... Quem sabe.

Mas eu sei que hoje à noite eu dormirei cantando "Wo sind die Kinder".
Extraí o conto daqui:
http://members.fortunecity.com/gafanhota/hamelin.htm

Bons sonhos a todos.

2 comentários:

  1. Também não sei em que ponto vc quis chegar com essa postagem Rafael, o que sei é que me fez pensar... por esses dias alguém me disse que sou ingenua e eu reagir pensando que devo crescer e perde essa coisa que me faz correr sempre que alguém grita... Mas, depois de suas linhas começo a me perguntar se vale mesmo a pena crescer nesse sentido...

    Eu sou muito, muito mesmo, fã de Carrol, muitas e muitas vezes me sinto como Alice, perdida em mundos maravilhosos que de maravilhosos não possuem coisas nenhuma... E sim, em algum aspecto espero que realmente "duas pessoas com a devida assistênia, juntas, possam em mutuo acordo se auxiliar na dificil tarefa de não perder a leveza e ingenuidade que só temos aos sete anos...

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  2. É, Pandora... Não fazemos ideia do sentido, da razão, de nada. Não é divertido?

    Também tenho vontade de virar na outra direção ao ouvir alguém gritar.

    E Carrol é sempre gracioso. Esse gracejo é nunca deixa de me surpreender.

    Hoje um amigo meu disse "Castro, você tá ficando cada vez mais louco ao terminar as postagens". Poderia haver elogio melhor?

    Bons sonhos, Jaci.

    Até depois...

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