sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A Dança Das Fadas - Neil Gaiman

Boa noite a todos.
Estava pensando se postaria alguma coisa no dia do ano novo e pensei... Pra quê melhor? Neil Gaiman!
Talvez poste mais um poema depois deste, mas devo avisar: descumprirei minha promessa da análise de A Câmara Secreta, ao menos no futuro próximo.
Boa leitura.
A Dança Das Fadas
Se eu fosse jovem e o sonho e a morte
fossem distantes como então,
Não partiria minh'alma ao meio,
guardando dela aqui um quinhão
Que tentaria o mundo das fadas
alcançar, mas sempre em vão
Enquanto a outra parte dela
andasse pela escuridão
Até curvar-se e dar três beijos
numa bela fada de maio
Que águias do céu arrancaria, com elas
pregando-me a um raio
E se meu coração fugisse dela,
se se desvencilhasse dela,
Num ninho de estrelas envolto
a fada ainda o traria com ela
Até que dele se cansasse,
quando enfarada o deixaria
Num rio de fogo onde meninos
o acabariam roubando um dia,
O iriam pegar, dele abusar,
puxando-o, deixando-o fino,
Partindo-o em quatro fios
p'ra encordoar algum violino.
E todo dia e toda noite
tocariam nele um madrigal
Que todos poria p'ra dançar
de tão estranho e sensual,
E o público rodopiaria,
saltitaria, cantaria em coro
Até que, com o olhar em brasa,
desabaria em rodas de ouro....
Mas isso foi há sessenta anos,
e jovem eu já não mais sou:
Para tocar além do sol
meu coração já alçou voo.
Com mente e olhar cheios de inveja,
admiro as almas isoladas
Que tal vento lunar não sentem,
alheias à Dança das Fadas,
Que não seduzem que não as ouve,
quem não se atreve a ser tão forte.
Quando eu era jovem, eu era um tolo. Então
me envolvam em sonho e morte.
Ok. Faltam quarenta (e um) minutos para o Ano Novo aqui na Bahia. Isso me dá mais uns dez minutos para terminar esta postagem e mais meia hora para fazer a próxima.
Certo, certo, a análise.
Considero este um dos melhores poemas do livro e possivelmente um dos melhores do Neil (ainda não é melhor que A Paixão do Arlequim, mas...). Este belo poema fala sobre um senhor que está se lembrando de sua juventude (ao menos é o que me parece). Ele então discorre sobre suas peripécias de jovem e tolo. Sobre como ele se apaixonou por uma fada, sobre como se amarrou a uma águia, como divertiu jovens na Grande Noite (não me pergunte o que quero dizer com isso, ainda não tenho certeza).
Então, ele acorda, e percebe que tudo aquilo já passou, e ele é apenas um velho. Gosto de pensar que ele se volta para o "sonho e a morte" como Morpheus fez: uma espécie de constatação da realidade: está na hora de mudar. Espero que quando chegue a minha hora, eu possa fazer esta constatação com tanta elegância assim.
Provavelmente estou falando baboseiras, estou meio cansado, estou triste, estou com borboletas no estômago. Estou também com vergonha e há séculos eu não analiso um poema. E, como sempre, estou analisando este poema com base em como me sinto.
Bons sonhos a todos.

2 comentários:

  1. Oi Arlequim

    Belo blog o teu.Meu Deus, eu tinha perdido o endereço de teu blog,mas agora, mesmo que o pc formate de novo, ficará cá na mesma.
    Bjs
    Xenah...com H

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  2. Olá, Xenah.
    ♠ Estou (novamente) feliz que tenha gostado do meu blog.
    ♠ Sempre que precisar do endereço, pode me pedir.
    ♠ Desejo-lhe o de sempre: bons sonhos.

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