quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Lágrimas são divinas

O.B.S.: Este texto não segue uma ordem clara de pensamento. Foi escrito em um estado alterado de consciência fruto da meditação dos dois corações. Autoria própria. “Filho meu não pode chorar”, “Homem não chora” e várias outras frases de cunho machista suprimem do homem a inata capacidade e beleza de chorar. Já dizia eu mesmo: “Lágrimas são a mais divina manifestação humana; elas nascem da mais profunda essência do EU para lavar dos olhos da alma a poeira que a vida lhes jogou”. Mas porque chorar? Sempre que esta pergunta me vem a mente eu me lembro da Estrela do Tarot de Marselha. Ali, totalmente despida de qualquer conceito mundano, concentrada somente em verter no solo fértil do consciente e na corrente de águas límpidas da vida o conteúdo dos dois vasos que tem em mãos. Em dado momento parei para perguntar a bela moça o que eram aqueles dois lindos vasos. Ela sorriu para mim e me respondeu carinhosamente: “São meus olhos. Deles verto lágrimas para fazer brotar as belas árvores da vida humana”. Então se calou e negou a mim qualquer outra questão que eu pudesse fazer. Não me dando por satisfeito resolvi questionar a bela senhora que figurava no próximo arcano o porque do seu pranto. Ela então respondeu rispidamente: “Do que vale a vida se não pranteias a morte?”. Ela então fechou os olhos e vi seus cães ladrarem ameaçadoramente para mim. Dei um passo para trás e decidi terminar a jornada. Passei dias deglutindo o que as duas belas mulheres haviam me dito. Então lembrei da frase de Crowley: “Desperdicei o tempo, agora o tempo me desperdiça”. Estava ali, na minha frente, a não resolução dos meus problemas. Eu finalmente havia entendido a dureza da Lua. Do que adianta viver se não pranteamos a morte dos velhos estigmas e egos? Do que vale a vida se as velhas torres em que nos guardamos da iluminação não são derrubadas? A roda da fortuna gira uma vida por dia. Somente a morte explica a vida e a vida explica a morte. Nossos ciclos estão fadados a terminar, e neste fim, as lágrimas emergem como o sangue da presa morta. Então em uma ordem inversa brota da morte a vida. Dos sonhos mortos recolhidos pela lua é gerada a água que verte dos olhos da estrela. “Que nenhum homem seja privado da beleza de chorar. Que todo o homem tenha o direito de fazer brotar na sua face o brilho do ouro primordial que cintila dentro do seu ser. Que a luz refletida nas lágrimas seja a estrela a guiar nossas vidas. Emoções são cavalos selvagens, são mais belos quando correm soltos pelo vasto campo da vida.”

Um comentário:

  1. ♠ Alexandre: Invariavelmente acabo descobrindo que os escritos extraidos imediatamente da mente são os que mais se provam reais e de acordo com Schopenhauer.

    ♠ Adoro-os. São meus excertos mentais. Meus e dos outros. São reais. São vivos. Nós os sentimos.

    ♠ São belos e doces. São.

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