quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Suma Sacerdotiza (Papisa)

Arcano 2

“O trunfo número dois do Tarot retrata uma sacerdotisa de antiga e misteriosa origem. Diante de nós, no arcano número dois, está sentada a Mulher. Vista na seqüência das cartas do Tarot ela se segue ao Mago, que é um sábio revestido da dignidade sacerdotal, ou mago, podemos pensar nela como Suma Sacerdotisa, nome aliás que lhe dão alguns baralhos modernos.”

Adaptado do livro Jung e o Tarô

Analisando a imagem da Papisa (Suma Sacerdotisa) no tarot de Waite vemos primariamente uma mulher completamente diferente daquela que se vê no baralho de Marselha. Enquanto a mulher representada no tarot de Marselha parece extremamente séria e embebida em um pensamento ou segredo profundo, nossa Papisa do tarot de Waite parece muito menos preocupada com seu interior, com descobrirem seu último segredo.

A papisa de Marselha parece entregar-nos o livro (livro esse que representa toda a sabedoria encerrada no seu princípio feminino, o yang primário; princípio este que aprisiona a sabedoria da intuição, do poder divino na forma mais pura). A papisa de Marselha pálida como um espírito está pronta para compartilhar conosco sua sabedoria e seus ensinamentos. Já a suma sacerdotisa de Waite parece de alguma forma querer ocultar o supremo conhecimento (retratado por Waite como a Tora, nome que se vê escrito no pergaminho que ela guarda entre os braços como se o quisesse protegê-lo acima de tudo) dos que desejam apoderar-se do mesmo sem ser dignos.

A magia do Mago (primeiro arcano), assim como o seu sexo, se expõe na frente. Na papisa, sua magia velada e oculta como seus cabelos, está escondida pelas cortinas atrás dela. No baralho de Marselha, a papisa é o único arcano que ultrapassa os limites da linha superior, o que nos dá indício de uma ligação muito íntima com algo que está acima de nós. Uma ligação tão poderosa que transpassa os limites dados. Sentimos que o poder do mago está de certo modo sob seu controle consciente, que ele pode usá-lo apenas com o movimento da varinha que empunha. Não é esse o caso da suma sacerdotisa. A natureza do seu poder mágico está oculta até mesmo dela própria, logo atrás do véu, nas suas costas. Este é um dos pontos comuns dos dois baralhos supracitados.

A papisa (La Papesse) assim como a Suma Sacerdotisa tem parte do seu poder velado até de sua própria pessoa. O baralho de Marselha parece querer nos mostrar de onde vem esse poder. Tendo duas colunas atrás de si, onde está pendurado o véu que lhe esconde a natureza do seu poder, está o símbolo da dualidade (o número dois), indicação de que todo o poder do arcano nasce na aceitação da dualidade, do Yin-Yang. No baralho de Waite figura um simbolismo judaico fortíssimo. As duas colunas que sustentam a cortina que lhe oculta as origens são as colunas do templo de Salomão, onde figuram escritas as letras B e J (Beit – o lado escuro, yang; Yod – o lado alvo, yin). Os pilares representam em si os três pilares da Étz Chaim (Árvore das Vidas, na Kabbalah): Pilar da Misericórdia (da esquerda) e o Pilar da Severidade (da direita). Assim podemos fazer uma conexão entre o Yin – Severidade e o Yang – Misericórdia.

Mas nos falta um pilar. O pilar que ajunta ambos os apectos em um único e capaz de nos fazer experimentar os dois caminhos: o pilar do meio. E este pilar é exatamente a sacerdotisa. Se observarmos a cortina atrás dela, veremos desenhos, velhos símbolos de fertilidade. Mas se analisarmos a disposição dos maiores desenhos (as romãs), perceberemos que os mesmos estão dispostos de forma que seu desenho se assemelha a estrutura das Sephiroth da Étz Chaim. Assim perceberemos que foram suprimidas as Sephiroth do pilar do meio. Da’at, Tiphereth, Yesod e Malkuth. A correspondência das sephiroth não é muito complicada de se construir. Malkuth, o mundo, está onde se assenta a papisa no tarot de Waite. Seu mundo de ação é Malkuth e é nele que ela se encontra em plenitude. Yesod, a fundação, se encontra onde está a Torah. A Torah, onde estão escritas as graças e os segredos de Yahweh é a fundação para o mundo, Malkuth, onde se assenta a sacerdotisa. Tiphereth, a beleza e o centro da Étz Chaim encontra-se na altura do coração da papisa . No mesmo lugar onde vemos um crucifixo, símbolo pré-cristão que simboliza a união entre o mundano e o sagrado. O centro da Étz Chaim encontra-se no coração, no centro do significado da papisa. Encontra-se onde o homem, pelo sentimentalismo próprio da mulher, consegue compreender a si mesmo e unir-se ao sagrado. Mas nada disso aconteceria sem Da’at e Da’at não se ordenaria sem Tiphereth e Binah. A suma sacerdotisa usa uma coroa idêntica a da deusa egípcia Maat. A coroa toca Binah e Hokmah e tem seu adereço mais belo como Da’at. Da’at é o conhecimento bruto, sem compreensão, pois a compreensão é Binah. E junto a Binah temos Hokmah, a sabedoria. A sacerdotiza, une o conhecimento à compreensão e sabedoria para justificar toda o pilar do meio e talvez a própria Étz Chaim. Através da energia fria da água que a circunda e da lua que controla as marés, a sacerdotisa lava Malkuth da ignorância e da separação. Ela unifica o dual através da sua coroa e justifica a Yesod, a fundação, através do propósito que trás no coração: unir o homem ao sagrado.

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